Quinta-feira, 14 de Junho de 2012
publicado por JN em 14/6/12

OS SÍTIOS SEM RESPOSTA

de Joel Neto, romance (Porto Editora, 2012)


«A grande afirmação do autor como romancista.»

JORNAL DE LETRAS

«Um romance fluido e sem pontas soltas.»

LER

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TIME OUT

«Melancólico e comovente.»

DIÁRIO DE NOTÍCIAS


ENTREVISTA"PESSOAL E TRANSMISSÍVEL" aqui

 

Um homem muda de tudo: muda de mulher e de partido, muda de religião e até de sexo – muda daquilo que quiser, menos de clube de futebol. Miguel João Barcelos mudou. Atrás, tem dois casamentos fracassados, uma monótona carreira de profissional de seguros e uma longa história de serões passados ao lado do pai, chorando algumas das mais belas e irresistíveis derrotas do Sporting. Agora, começou a sofrer pelo Benfica. E é quando se prepara para confessar o seu crime que vê entrar em cena uma misteriosa executiva de saltos altos, determinada a virar do avesso todas as certezas sobre as quais esperava erguer o seu projecto de nascer de novo.

Um fresco sobre a solidão que é, ao mesmo tempo, uma viagem ao coração dos homens e um tributo ao indecifrável poder das mulheres. Dez anos depois de “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas”, Joel Neto regressa à ficção – e para ficar. 

 

 

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LANÇAMENTOS:

- LISBOA: dia 18 de Abril, El Corte Inglés, 18.30, com apresentação de ANTÓNIO-PEDRO VASCONCELOS.
- PORTO/GAIA: dia 30 de Abril, El Corte Inglés, 18.30, com apresentação de JÚLIO MACHADO VAZ.
- LOURINHÃ: dia 2 de Junho, Biblioteca Municipal da Lourinhã (Livros a Oeste), 17.00, com apresentação de JOSÉ DO CARMO FRANCISCO.
- PONTA DELGADA: dia 11 de Junho, Livraria Solmar-Artes&Letras, 19.00, com apresentação de VAMBERTO FREITAS.

- ANGRA DO HEROÍSMO: dia 25 de Junho, Salão Nobre da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, 19.30 (Festas Sanjoaninas), com apresentação de CUNHA DE OLIVEIRA.

ENCONTROS E LEITURAS:

- GUIMARÃES: 28 de Abril, FNAC, 15.00, encontro com os leitores.

- BRAGA: 28 de Abril, FNAC, 21.30, encontro com os leitores.

- LISBOA: 21 de Maio, El C0rte Inglés (Sala de Âmbito Cultural), encontro com os alunos do Curso de Escrita Criativa, 19.00.

- ALGÉS: 30 de Maio, Biblioteca Municipal de Algés, 21.30, "Café Com Letras", com Carlos Vaz Marques.

- ANGRA DO HEROÍSMO: 5 de Julho (hora a confirmar), sessão de leitura na sede do Sport Club Lusitânia - 90º aniversário do clube.

- SÃO BARTOLOMEU DOS REGATOS: Julho (dia e hora a confirmar), sessão de leitura na Venda do Francisquinho.

 

FEIRA:

- LISBOA: Feira do Livro de Lisboa

                           MESA DE DEBATE: 11 de Maio, 21.00, com Miguel Real e André Barata ("Portugal e a História").

                           SESSÕES DE AUTÓGRAFOS:  27 de Abril (18.00-20.00) e 12 de Maio (15.00-18.00).

FESTIVAIS:

- FUNCHAL: Festival Literário da Madeira, de 15 a 18 de Março.
- LOURINHÃ: Livros a Oeste, de 31 de Maio a 6 de Junho.

publicado por JN em 14/6/12

OS SÍTIOS SEM RESPOSTA

de Joel Neto (Porto Editora, 2012)

 

«Nesta Lisboa retratada por Joel Neto, mais que cidadãos activos, emergem massas frustradas de consumidores, uma violenta mistura de costumes, privilegiando sempre o dinheiro e o sexo, um desejo libidinal à flor da pele, a necessidade de radicação existencial em tribos-clubes desportivos e o abandono a formas fáceis e lucrativas de vida.

(...) O estilo do autor paira numa zona intermédia entre o falajar popular, as conversas do quotidiano, e a vertente intelectual da língua, ora tombando para uma vertente, ora para outra, ora, ainda e sobretudo, criando um campo semântico próprio nascido do cruzamento dos dois anteriores, que lhe singulariza a escrita.

(...) Admirável a narração do esforço de Miguel para se tornar benfiquista.

(...) Estamos tentados a escrever ser 'Os Sítios Sem Resposta' a grande afirmação do autor como romancista, atingindo um patamar estético de franca qualidade tanto na caracterização das quatro personagens principais (Miguel, Pedro, Alberto, Cristina), fortemente consistentes, quanto na arte do cruzamento das múltiplas histórias do fluir e da reunião "natural" entre as quais nasce o tecido narrativo, quanto, ainda, na figuração dos novos tipos e atmosferas sociais lisboetas, em contraste, enquanto pano de fundo, com a imobilidade açoriana, ora igualmente em estado de esgaçamento.»

Miguel Real (Jornal de Letras, 16-5-12)

 

«Parte de uma premissa tão absurda que se torna perfeita para o exercício da ficção. (...) Com prosa escorreita e recursos de cronista (sentimental nas passagens açorianas; mordaz na crítica das modas lisboetas), Joel Neto assina um romance fluido e sem pontas soltas, em que o futebol é só o pretexto para falar de coisas muito mais essenciais, como a amizade ou o amor entre pai e filho.»

José Mário Silva (Ler, 1-6-12)

 

«Será este talvez o primeiro romance da crise global em que o nosso país, em todos os seus recantos, está mergulhado, o romance em que todas as gerações juntam a sua infelicidade do passado ao presente. Há muito tempo que esta geração a meio da ponte e da vida não nos presenteava com um romance tão abrangente e significante."
(...) A sociedade é aqui, parece ser, muito mais protagonista do que os seus personagens, meras peças secundárias na engrenagem em que toda uma geração está apanhada e presa, “crise” sendo uma das mais amenas, se bem que repetidas, palavras neste romance."
(...)
Este romance de Joel Neto é tudo isso, e é ainda muito mais, é a sua prosa ficcional numa fase de total maturidade, a vivência circular do seu protagonista entre as ilhas e a capital do país, em que toda a sua vida é revista e repensada numa actualidade que, do mesmo modo, tanto parece progredir nos seus espasmos de modernidade incerta como parece regressar ao solo das origens, esse que tudo condiciona na vida reinventada de um açoriano perfeitamente integrado nos grandes meios, mas nunca liberto do seu passado, que nem sequer é passado e nunca morre, nas palavras de um grande escritor norte-americano quando se referia à sua própria história comunitária.»

Vamberto Freitas (Açoriano Oriental, 14-6-12)

 

«Um romance melancólico e comovente (...) que surpreende pela forma como consegue capturar de forma verosímil e pungente a vida quotidiana, sem nunca cair num registo paternalista nem em grandiloquências estéreis.»

Joana Emídio Marques (Diário de Notícias, 6-4-12)

 

«Joel Neto é hoje uma magnífica voz da consciência açoriana.»

Onésimo Teotónio de Almeida (Festival Correntes d'Escritas, 2-13)

 

«Joel Neto vai à bola com a Literatura, em busca de novos territórios para as letras nacionais. (...) Remata para outros campos. Cruza gerações, tentando compreender o que une um pai e um filho, e centra a história na entrada da idade adulta. O resto é toque de escrita, à qual não é alheio o seu talento como cronista. Neste jogo, quem ganha é a Literatura.»

Luís Ricardo Duarte (Jornal de Letras, 4-4-12)

 

«Os sportinguistas terão de perdoar a Joel Neto, que é do Sporting, ter deixado na ficção o Sporting para trás. E os outros terão de perdoar a autora deste texto por dar quatro estrelas a um sportinguista.»

Catarina Homem Marques (Time Out, 11-4-12)

 

«Há uma sensação de desconforto. De absurdo. Que choca o leitor e o deixa de pernas para o ar.»

Luís Caetano (Antena 2, 19-5-12)

 

«Delicioso.»

Nuno Perestrelo (A Bola, 8-11-12)

 

«Não apenas está repleto de temas importantes, como tem cenas deliciosas e descrições lindíssimas. E demonstra como é dentro de nós que algumas das perguntas mais difíceis podem encontrar um esboço de resposta.»

Júlio Machado Vaz (30-3-12)

 

«Um excelente livro e uma bela surpresa. Um retrato do vazio e do seu rosto mais nobre: a solidão e o silêncio. A lucidez é o refúgio tardio dos românticos.»

António Pedro Vasconcelos (18-4-12)

 

 

«Joel Neto é um grande escritor português.»

 

Vamberto Freitas (RTP/Açores, 4-12)

 

 

«Não se deve ler como quem bebe um copo de água. Deve ler-se muito devagar, como quem saboreia um vinho precioso, voltando com frequência à frase, ao parágrafo, à cena anterior. É belo, é genial e é arte.»

Cunha de Oliveira (25-6-12)

 

«Que maravilha mergulhar nas suas páginas lavadas de amor, de boniteza, de cores, de cheiro da terra, de Entrudo e de funções do Espírito Santo, sentir a força omnipresente e carinhosa da Maria Carminda mas, principalmente, deixar-se envolver na intensidade dos sentimentos que une pai e filho de um jeito muito terno. Fez-me recordar o retorno à casa paterna de Arkádi Kirsánov em 'Pais e Filhos', de Ivan Turguenyev (1818-1883).»

Lélia Nunes (Comunidades-RTP.pt, 1-8-12)

 

«[Joel Neto é] Um dos nossos escribas preferidos.»

Playboy (1-5-12)

 

«E é esse o mistério: um homem é quase obrigado a fazer sexo com uma desconhecida que o contata por telefone e depois o visita. Ele acede, sem perguntas; será realista? Será tuga? Talvez, mas boa literatura é que não é de certeza. .»

Padre Teodoro de Matos (A União, 21-8-12)

 

«Passaram dez anos e Joel Neto amadureceu muito. Se a forma continuou brilhante como sempre, no tratar a Língua por tu, Português leve, fluente, sem artifícios, mas regado de surpresas e “cantos para fazer paragens”, o pensamento humanizou-se e tornou-se arrojado nos objectivos e próximo nas compreensões, desde a narrativa das grandes solidões interiores derramadas em noites de marcadas e sensuais companhias, até à ideia resplandecente dos regressos, a ilha sempre presente, o pai e o peso paternal, mesmo nos medos das pequenas verdades e suas consequências.»

José Manuel Santos Narciso (Atlântico Expresso, 29-4-13)

 

«Um tour de force. O melhor livro que li este ano (e já li umas dezenas). Magnífico, com tudo no sítio e a demonstração que é possível escrever em português de Portugal como os brasileiros descobriram há muito ser possível com o português deles

Pedro Boucherie Mendes (4-4-12)

 

«Comprei-o com o plano de começar a ler quando terminasse de escrever o meu. Qual quê? Cometi o erro de ir espreitar a primeira frase e não parei mais. Magistralmente escrito. Só um escritor se lembraria disto. Um homem não pode mudar de clube porquê? O FCP que vá para as urtigas. A partir de agora sou do Sporting

Luís Miguel Rocha (10-4-12)

 

«Lê-se quase de um fôlego, esta bonita história de amor entre pai e filho. (...) Prosa ágil, agradável, um regresso de quem se espera muito.»

Rui Calafate (It's PR Stupid!: 3-6-12)

 

«Há o Sporting contra o Benfica e muito mais do que futebol. (...) Escrito com a prosa em toque poético, passe de letra. (...) A palavra nunca deixa de correr ao longo das páginas em subtil sedução. (...) E, no fundo, é nisso que se tece e entretece todo o encanto que o romance tem, que o romance é.»

António Simões (A Bola, 4-4-12)

 

«Há amizades feitas, desfeitas e refeitas, casamentos, divórcios e sexo ocasional. E a conclusão de que no futebol, tal como na vida, está longe de haver resposta para tudo.»

Carlos Vaz Marques (TSF, 2-4-12)

 

«Grande romance.»

Urbano Bettencourt (9-6-12)

 

«Embora sempre presente, o futebol é apenas o pretexto para que o cronista discorra sobre a solidão dos homens e a busca da felicidade.»

Sérgio Almeida (Jornal de Notícias, 9-4-12)

 

«A sua visão de S. Bartolomeu dos Regatos, (...) a sua relação com os familiares e amigos, as suas recordações de infância rural, tudo num cenário descritivo fabuloso, fizeram-me lembrar as passagens intensas do escritor Cristóvão de Aguiar sobre a sua e minha freguesia. Não há forma mais magistral de enredar o romantismo açórico.»

Osvaldo Cabral (Correio dos Açores, 9-6-12)

 

«Fantástico livro. (...) Dele tiro a lição do regresso à origem para acharmos o caminho por achar, mesmo quando o andamos a trilhar.»

Manuel Tomás (Diário Insular, 8-6-12)

 

«Um belo livro sobre a vida e a sua solidão.»

Penthouse (1-6-12)

 

«Não saímos iguais ao que fomos antes depois da sua leitura.»

José do Carmo Francisco (Aspirina B, 1-6-12)

 

«Maravilhoso romance.»

Ruben Correia, Ruben Correia Sugere (Pensamentos e Tretas 1-9-12)

publicado por JN em 14/6/12

OS SÍTIOS SEM RESPOSTA

de Joel Neto (Porto Editora, 2012)

Eventos e outras notícias:

 

Centena e meia de pessoas no lançamento nacional

 

«Um excelente livro e uma bela surpresa. Um retrato do vazio e do seu rosto mais nobre: a solidão e o silêncio», disse António-Pedro Vasconcelos, durante o lançamento nacional de "Os Sítios Sem Resposta", realizado ao final da tarde de 18 de Abril. Encarregue da apresentação, o cineasta destacou o lirismo e a lucidez do romance, numa intervenção que desafiou e divertiu e enterneceu as cerca de 150 pessoas reunidas no restaurante do centro comercial El Corte Inglés, em Lisboa. «O culto da nostalgia não nos trai, porque a memória emoldura as imagens, congela o tempo, embalsama as recordações. (...) A lucidez é o refúgio tardio dos românticos», disse ainda Vasconcelos. Personalidades da política (como João Bosco Mota Amaral), do empresariado (como Joaquim Oliveira), da literatura (como Alice Vieira), do jornalismo (como João Marcelino) e do futebol (como Ricardo) participaram na sessão. (foto © Jorge Pombo)

 

 

Lotação esgotada na passagem pelo Porto

 

“Não apenas está repleto de temas importantes, como tem cenas deliciosas e descrições lindíssimas. E demonstra como é dentro de nós que algumas das perguntas mais difíceis podem encontrar um esboço de resposta”, disse Júlio Machado Vaz, perante uma plateia que lotou por completo a Sala de Âmbito Cultural do centro comercial El Corte Inglés, em Gaia. Depois de uma pequena digressão pelo Minho, com paragens nas lojas FNAC de Guimarães e Braga, "Os Sítios Sem Resposta" mereceram lançamento portuense. A apresentação esteve a cargo do psiquiatra, professor, intelectual público e autor, entre outros, do romance "Muros". “De resto, tem um final estruturalmente apsicopatado, de alguém que está pronto para crescer. Aliás, todo o seu pano de fundo é sobre algo de fundamental: a pacificação com a figura paterna. Oxalá pudéssemos todos um dia dizer: ‘Não foi perfeito, mas gostávamos um do outro’. Ninguém pode crescer sem fazer os seus lutos e digerir as suas culpas”, acrescentou Machado Vaz. (foto © Pedro Rui Silva)

 

 

Assistência recorde no lançamento em Angra do Heroísmo

 

 

 

 

 


Mais de uma centena de pessoas lotaram por completo o Salão Nobre da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo para o lançamento de "Os Sítios Sem Resposta", com apresentação de Cunha de Oliveira. O evento fez parte do programa oficial das Sanjoaninas 2012 e foi presidido pela edil angrense, Sofia Couto. "Não se deve ler como quem bebe um copo de água. Deve ler-se muito devagar, como quem saboreia um vinho precioso, voltando com frequência à frase, ao parágrafo, à cena anterior", disse Cunha de Oliveira, teólogo e ensaista. "É belo, é genial e é arte", acrescentou. Com o lançamento de Angra ficava completa a série de apresentações do romance, à excepção do que diz respeito a duas últimas sessões de leitura: no 90º aniversário do Sport Clube Lusitânia e na Venda do Francisquinho, em São Bartolomeu dos Regatos. (foto © Margarida Quinteiro)

 

 

Sala cheia na livraria Solmar para o reencontro com Ponta Delgada

 

 


Amigos da literatura, do jornalismo, da política e da vida reuniram-se na livraria Solmar, o último grande livreiro dos Açores, para a apresentação de "Os Sítios Sem Resposta" em Ponta Delgada. A apresentação esteve a cargo de Vamberto Freitas, professor, ensaista e o homem a quem se devem quase todos os esforços para a sobrevivência de uma crítica literária no arquipélago. "Este romance de Joel Neto", disse Vamberto na apresentação, "é a sua prosa ficcional numa fase de total maturidade, a vivência circular do seu protagonista entre as ilhas e a capital do país, em que toda a sua vida é revista e repensada numa actualidade que, do mesmo modo, tanto parece progredir nos seus espasmos de modernidade incerta como parece regressar ao solo das origens, esse que tudo condiciona na vida reinventada de um açoriano perfeitamente integrado nos grandes meios, mas nunca liberto do seu passado." Berta Cabral, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, esteve presente no evento. (foto © Helena Frias)

 

 

"O Terceiro Servo" incluído no Plano Regional de Leitura

 

Estes livros, disse em conferência de imprensa a secretária regional de Educação e Cultura, Cláudia Cardoso, "dirigem-se ao público em geral, sem especificação de níveis etários ou escolares", ficando portanto a cargo dos cidadãos e dos educadores "a missão da escolha de entre esta lista de livros os que considerem mais adequadas ao desenvolvimento intelectual, social e ético", o seu próprio e o dos mais jovens. Depois de anos a debater o projecto, o Governo Regional conseguiu levar avante a constituição de uma comissão e definir um Plano Regional de Leitura, que de resto veio a merecer ampla campanha de divulgação nos órgãos de media regionais. A lista, com obras nos domínios da narrativa, da poesia e do ensaio, inclui autores como Vitorino Nemésio, Natália Correia, João de Melo, Cristóvão de Aguiar, Álamo Oliveira ou Katherine Vaz. "O Terceiro Servo", de Joel Neto (2000), é um dos 60 livros recomendados.

publicado por JN em 14/6/12

OS SÍTIOS SEM RESPOSTA

de Joel Neto (Porto Editora, 2012)


Entrevistas:

 

 

TSF: MUITO MAIS DO QUE FUTEBOL

PESSOAL E TRANSMISSÍVEL, 22 DE MAIO DE 2012

Som aqui

 

 

TVI24: DUAS DÉCADAS DE ESCRITA

LIVRARIA IDEAL, 22 DE ABRIL DE 2012

Vídeo aqui

 

CANAL Q: FUTEBOL E GOLFE,  SEXO E AMOR

Inferno, 4 DE ABRIL DE 2012

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RTP: UM TRIBUTO AO PAI

Telejornal, 9 DE ABRIL DE 2012

Vídeo aqui

 

RTPIn: A ADMIRAÇÃO DO PAI

Ler + Ler Melhor, 1 DE Maio DE 2012

 

ANTENA2: COMO O LIVRO DEVE SER LIDO

A FORÇA DAS COISAS, 19 DE MAIO DE 2012

Som aqui

 

ANTENA1: ENTRE OS AÇORES E LISBOA

HOTEL BABILÓNIA, 16 DE JUNHO DE 2012

Som aqui

 

RÁDIO RENASCENÇA: O CAMPO & A CIDADE

ENSAIO GERAL, 13 DE ABRIL DE 2012

Som aqui

 

ANTENA3: A CRÓNICA E A LITERATURA

PROVA ORAL, 11 DE JUNHO DE 2012

Som aqui

 

 

ANTENA1/AÇORES: O RFECTIVO REGRESSO A CASA

 

GRANDE ENTREVISTA, 10 DE MAIO DE 2013

 

Som aqui

 

 

JL: O JOGO DE PAIS E FILHOS

Estante, 4 DE ABRIL DE 2012

 

DN: QUANDO A SOLIDÃO É MAIS RUIDOSA DO QUE UM DÉRBI

ARTES, 9 DE ABRIL DE 2012

 

TIME OUT: TESTEMUNHA DE UM TEMPO E DE UM ESPAÇO

SOB O FOCO, 17 DE ABRIL DE 2012

 

SIC: TROCAR, SÓ POR DINHEIRO

Curto Circuito, 19 DE ABRIL DE 2012

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LER: "OS MEUS LIVROS NÃO SÃO PARA MENINAS"

Visitas ao Sofá, MAIO DE 2012

 

JN: "O FUTEBOL CONSEGUE O MILAGRE DE UNIR GERAÇÕES"

Primeiro Plano, 9 DE ABRIL DE 2012

 

A BOLA: A HISTÓRIA DO SPORTINGUISTA QUE MUDOU PARA O BENFICA

SPORTING-BENFICA, 4 DE ABRIL DE 2012

 

i: A ROTINA DE UM ESCRITOR

FAZ-SE ASSIM, 14 DE ABRIL DE 2012

 

O JOGO: "ESTE LIVRO ANDA COMIGO HÁ ANOS"

PRÉ-PUBLICAÇÃO, 1 DE ABRIL DE 2012

 

A UNIÃO: PODE MUDAR-SE DE TUDO?

U, 22 DE ABRIL DE 2012

 

 

 

AO: "A MINHA EXISTÊNCIA SÓ FAZ SENTIDO ESCREVENDO"

ENTREVISTA, 28 DE MARÇO DE 2012

 

DI: "HÁ UMA NOVA GERAÇÃO SEM TEMPO PARA O LIVRO"

ENTREVISTA 28 DE MARÇO DE 2012

publicado por JN em 14/6/12

Tudo o que eu devo ao futebol

 

Nenhuma literatura alguma vez fez isto por mim. Nenhuma poesia,

nenhuma arte, nenhuma filosofia. Fê-lo o futebol.

De cada vez que me sento num estádio, ou me ponho em frente ao televisor, ou me curvo diante de um transístor, não é aquele jogo que vejo, não é aquele jogo que ouço. Estou em 1989, faltam dez segundos para Fernando Gomes atirar à barra o penálti que impedirá o Sporting de bater o Nápoles de Maradona – e aí vai ele, Gomes, com a bola na mão, caminhando entre o círculo central e a grande área, o olhar pregado na relva como quem sabe que lhe caberá a ele a dúbia honra de glorificar a nossa derrota. Estou mais longe ainda, aliás: estou no Verão de 1987 e Vítor Damas anda aos gritos em cima do risco de golo, a correr de um lado para o outro da baliza e a fazer exigências à descoordenada barreira do Sporting, enquanto Dito, Nunes e Diamantino parecem discutir quem marcará o livre directo cedido instantes antes por Ralph Meade – e já aí está Diamantino, partindo para a bola à falsa fé e ali mesmo começando a desequilibrar, de modo ao mesmo tempo infecto e irremediável, a final da Taça de Portugal, a nossa primeira vaga oportunidade de compensar cinco anos sem títulos de qualquer espécie (isto num tempo em que cinco anos sem títulos de qualquer espécie ainda eram uma tragédia, note-se), e que, não por coincidência, morreria aos pés do Benfica.

Ao meu lado está o meu pai, ainda jovem. Olho-o de soslaio, como que voltando a tentar desvendá-lo. Todos os dias o vejo sair e regressar a casa, com a sua impecável farda azul – e é quase tudo. Não sei ainda o quanto o admirarei no futuro. Não sei ainda o papel que terá no meu olhar sobre o mundo a sua honestidade férrea. Não faço ideia sequer de que está já plantando em mim a semente renovadora (e até um pouco maligna) da auto-determinação, incutindo-me a urgência de suplantar o destino que me parece guardado. Ou talvez comece já a intuir alguma coisa, não sei. Estamos na cozinha fria dos Açores. Lá fora, o silêncio. Não passam automóveis na rua em dias de futebol – os próprios melros parecem suspender o seu desenfreado canto quando joga o Sporting. Há como que um estertor de ansiedade por dentro do meu pai. Ondas peristálticas percorrem-lhe o pescoço, o peito, o estômago – e, no entanto, nem um esgar, nem um salto incontido, nem um gesto de impaciência. Até que se confirma que perdemos. Perdemos sempre, na verdade. Sempre que é importante. E então ele ergue-se silencioso, tossica a sua tosse tímida e nervosa, como que dando por concluída a tarefa mais irrelevante e aborrecida do dia – e desaparece lá para trás, para o quintal, onde passará a noite com um maço e um escopro, abrindo buracos sem razão aparente, e que no fim-de-semana seguinte se ocupará de tornar a tapar, assim o Sporting volte a perder.

 

Ao significado de tudo isto, demoro ainda muito tempo a percebê-lo. Nos quinze anos seguintes haveremos de viver a dois mil quilómetros um do outro – e mesmo quando, a dada altura, uma parte do meu ano começar a ser vivida não a dois mil quilómetros dele, mas a cem metros apenas, a distância entre nós demorar-se-á a mesma. E, contudo, continuaremos a ter o futebol. Teremos sempre o futebol. Mesmo que não encontremos mais nada sobre o que falar um com o outro, haverá o Sporting. Às vezes ainda tentamos fugir-lhe. Fugir-lhe, não: transcendê-lo. Não há razão para fugirmos do Sporting, afinal: o Sporting sempre nos partiu o coração, mas o que lhe devemos é já muito mais importante do que a simples alegria. Tentamos diversificar a conversa, digamos. Falamos do trabalho. Dos afazeres. Da crise. Da meteorologia – e, enfim, outra vez do Sporting (ou da selecção nacional, durante as grandes competições internacionais), agora menos frustrados com o fracasso dos outros assuntos do que gratos por aquele maravilhoso lugar a que poderemos voltar sempre. E, a certa altura, já nem é sequer uma possibilidade de comunicação, aquele jogo: é uma declaração de amor. Como, se calhar, se limitou sempre a ser: apenas a única maneira que encontrámos os dois de dizer um ao outro que nos amávamos, sem termos de efectivamente utilizar essas palavras.

 

O pai. Julgo que não me engano se disser que a idade adulta começa no momento em que um homem é pela primeira vez capaz de admirar o seu pai. O meu pai. Tenho a certeza de que, por muito que me tivesse esforçado, e ainda que o houvesse mesmo feito, eu jamais teria conseguido ser durante cinco minutos metade daquilo que ele foi ao longo de toda a vida, sem uma hesitação, sem uma ressalva, sem outra intenção que não apenas sê-lo. E que ainda é, aliás. Muitos escritores fizeram questão, algures ao longo da vida, de homenagear o pai. Fizeram-no muitas vezes a título póstumo, outras tantas quando ele se encontrava no leito de morte. Fizeram-no como forma de estender o braço, de recuperar o tempo perdido, de vencer a distância. Toda a literatura é isso, provavelmente: o impulso de vencer a distância, a irredutibilidade desse impulso. A mim, o momento de fazê-lo sobreveio-me talvez mais cedo do que a outros (embora mais tarde do que a muitos também). Chegou quase como uma epifania, sem se anunciar, quando eu sabia já que queria falar por uma última vez de futebol, mas ainda não porquê. E chegou avassalador: tomou o texto nas mãos e foi por aí fora, instrumentalizando-nos a todos, as pessoas, os lugares, os objectos, a rotinas, os cheiros – todos reduzidos a não mais do que ferramentas, como se a nós próprios não nos restasse mais do que abrir buracos sem razão aparente, talvez apenas para que pudéssemos fechá-los mais tarde, ainda que de novo por nenhum motivo que não o de manusear buracos.

 

Ao livro que resulta desse exercício decidi chamar-lhe “Os Sítios Sem Resposta”. A vida, se alguma vez puder ser reduzida a um sentido só, não passará provavelmente disso: de uma deriva pelos espaços que nada têm para dizer-nos de volta, da procura de um lugar a que possamos chamar nosso, do desorientado mas furioso caminho de regresso a casa. Mas, sobretudo, foi ao lado do meu pai que eu li pela primeira vez esse verso, esse maravilhoso poema de Tolentino de Mendonça que eu nem imaginava ainda roubar. “Regressamos a uma terra misteriosa/ trazemos uma ferida/ e o corpo ferido/ imprevistamente nos volta/ para margens mais remotas// (…) para além do jogo das nossas defesas/ qualquer coisa interior/ a intensa solidão das tempestades/ os campos alagados,/os sítios sem resposta// o teu silêncio, ó Deus, altera por completo os espaços.” Era sábado, eu estava à beira da mais importante e dramática decisão da minha vida (um momento puramente revolucionário, talvez, mas isso agora é o menos) e tinha por acaso o meu pai a meu lado, em Lisboa. Por acaso, não. De maneira nenhuma por acaso: alguma coisa nos dissera que devíamos estar juntos naquele dia, naquele tempo – alguma coisa dentro de nós nos encaminhara para ali. Passámos a tarde juntos, em silêncio, deambulando pela casa. Foi aí que eu o li. “Silêncio.” E então, sim, entrámos no meu Smart. Abrimos o tejadilho. Pusemos um disco de funk – e dirigimo-nos para Norte.

 

O Sporting, naturalmente, perdeu. Se ganhasse, conquistaria também o campeonato, pondo fim a novos quatro anos sem títulos de importância alguma. Durante mais de uma hora, o Sporting em cima deles. Ataques pela esquerda, ataques pela direita, determinação defensiva, resiliência. O Sporting comovente, como tantas vezes é o Sporting, sobretudo se a caminho de mais uma bela derrota. Pelo menos, eu recordo-o assim: abnegado e comovente. Até que, aos oitenta e quatro minutos, um pontapé longo do guarda-redes adversário. Para além do jogo das nossas defesas, qualquer coisa interior. O corpo ferido. Dois toques, uma triangulação – e nós reconhecendo já aquilo, aquele ritmo, aquela melodia. O silêncio. A intensa solidão das tempestades, os campos alagados, os sítios sem resposta. Um remate – e, pronto: golo do FC Porto. O teu silêncio, ó Deus – o teu silêncio altera por completo os espaços. Golo do FC Porto e, de novo, o fracasso. Mas, de novo também, não apenas meu. Não apenas dele. Nosso. O estádio atónito, insultos trocando-se entre adversários, murros digladiando-se entre amigos. E nós ali. Um ao lado do outro. No silêncio de sempre – voltando à cozinha fria dos Açores, ouvindo outra vez suspender-se o canto dos melros e, enfim, dispersando, ele para o escopro com que abriria buracos pelo quintal, eu ao quarto da infância, onde poria uma almofada sobre a cabeça, para reprimir as lágrimas, e tentaria dormir até ao fim-de-semana seguinte.


Nenhuma literatura alguma vez fez isto por mim. Nenhuma poesia, nenhuma arte, nenhuma filosofia. Fê-lo o futebol. E dedicar-lhe um romance, bem vistas as coisas, é pequeníssima penitência para tão grande milagre.

Qi, 9 de Junho de 2012.

publicado por JN em 14/6/12

OS SÍTIOS SEM RESPOSTA

de Joel Neto (Porto Editora, 2012)


Outros links:

-> Em destaque no Telejornal em dia de dérbi.

-> N'O Amor É, de Júlio Machado Vaz e Inês Meneses. 

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-> Entrevista ao blog "Livros e Marcadores".

-> Entrevista ao blog "Silêncios Que Falam".

-> Palavras simpáticas para o autor.

-> Livro com repercussões no Brasil.

-> Passatempo: como ganhar um exemplar?

publicado por JN em 14/6/12

OS SÍTIOS SEM RESPOSTA

de Joel Neto (Porto Editora, 2012)


Pré-publicação:

 

Será mesmo proibido

mudar de clube?

 

Dez anos depois de “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas”, Joel Neto regressa à ficção. A J antecipa, em primeira mão, três excertos de “Os Sítios Sem Resposta”, nas bancas a partir desta terça-feira, com chancela da Porto Editora

 

«Mudei de clube num dia de Novembro. O sol jorrava sobre Lisboa, que o recebia com um misto de gratidão e rancor – e, no entanto, nem o mês em curso nem as condições meteorológicas vigentes, extraordinárias mas não inéditas, tiveram o que quer que fosse a ver com a minha decisão.

O que aconteceu, no essencial, foi o que sempre acontecia às segundas-feiras: estávamos os três, eu, Pedro e Alberto, prolongando o almoço muito para lá do devido sob o sol tardio de um daqueles Outonos ferventes após os quais só podia vir chuva, muita chuva, muito mais chuva do que era suposto um Deus misericordioso derramar sobre as suas criaturas – e, naturalmente, falávamos de futebol. Até que,  ao concluir outra das suas habituais dissertações sobre as origens de nova e inexorável série de derrotas do Sporting, a fé que nos unia e nos puxava para baixo e nos tornava a unir lá no fundo, Alberto ergueu o terceiro uísque:

– Que se lixe. Um homem muda de mulher, muda de partido, muda de religião, muda de tudo aquilo que quiser, até de sexo, mas de clube é que não muda nunca. Portanto, viva o Sporting!

E eu, como se não pudesse evitá-lo, dei por mim de repente:

– Mas não muda porquê?

E logo a seguir, incapaz de conter-me ainda:

– Uma merda, é que não muda… Pois escreve aí direitinho, que é para depois não te esqueceres: eu agora sou do Benfica.

Dei por mim a dizê-lo e, ainda por cima, a gostar de ouvir-me dizê-lo:

– Aí tens. Sou do Benfica. Mudei para o Benfica. Mudei para o Benfica e agora quero é que o Sporting vá morrer longe.»

 

***

 

«O dia em que pela primeira vez recebi a visita da executiva dos sapatos de vidro foi uma quinta-feira, antevéspera de Natal. Como de costume, eu optara por não tirar férias durante a quadra, aproveitando o silêncio da empresa, a libertadora desolação de Lisboa e a quase total ausência de clientes (embora não para a malta do Departamento de Sinistros, atarantada com a profusão de acidentes ocorridos ao longo da quinzena) para queimar duas semanas de trabalho e justificar-me por não voltar a São Bartolomeu pelas festas. Estava ainda a dormir no momento em que fui acordado pelo som do telefone – e, quando do outro lado soou finalmente uma voz, não ouvi mais nada senão:

– Às sete?

Fiquei calado durante alguns segundos, incerto ainda sobre se o telefone tocara mesmo e se, de facto, alguém dissera aquelas palavras: “Às sete?” Mas a verdade é que a voz que roufenhara do outro lado da linha continuava lá, à espera de uma resposta. Eu escutava um leve arfar, um fole compassado que parecia fazer vibrar o telefone junto ao meu ouvido – e a curiosidade sobre de quem se tratava e o que pretenderia essa pessoa, reforçada pelo silêncio que entretanto se substituíra àquela críptica pergunta inicial, apenas acentuava a estranheza imensa que era acordar com uma voz.

Limitei-me a devolver:

– Perdão?

E então a voz voltou:

– Às sete?

Ocorreu-me que fosse engano. Depois censurei-me por essa persistente incredulidade que me enegrecia o espírito – mas logo tornei a desconfiar. O mais provável era que se tratasse de uma brincadeira – e, no curto leque de potenciais humoristas, não me ocorria outro senão Alberto,  amargurado e cheio de boa vontade, determinado a lançar água sobre a fervura da nossa pequena disputa, propondo tréguas da forma mais dissimulada e indolor possível.

Na realidade, era difícil determinar o que quer que fosse sobre a voz. Até àquele momento, eu sabia apenas uma coisa. Melhor, duas. Primeiro, que era uma voz de mulher (e eu recebia cada vez menos telefonemas de mulheres). Segundo, que nunca a tinha ouvido (eu não tinha por hábito esquecer uma voz de mulher).

De maneira que, para cobrir todas as possibilidades e manter em aberto as diferentes perspectivas, decidi responder apenas: “Às sete”, no momento em que a voz se cansasse de esperar e repetisse ainda uma última vez a pergunta inicial. E, quando ela o fez e eu balbuciei a anuência, ainda a medo e como quem espera uma reacção, a mulher desligou de uma vez a chamada, sem um comentário, sem uma despedida, sem nada. Escutou com indiferença aquelas duas palavras vazias:

– Às sete.

E já não voltou a falar, limitando-se a pousar o auscultador, com a secura perturbadora de quem vê cumprida a mais insignificante e aborrecida tarefa do dia.

Eram sete e meia da manhã – e, de súbito, as quase doze horas que mediavam aquele momento e as sete da tarde, contanto fosse das sete da tarde que se falava, pareceram-me uma eternidade. Para além do mistério óbvio sobre as reais intenções por detrás daquele telefonema, e que a agitação quase me fizera relegar para segundo plano, o facto é que havia algo como que de terrível naquela voz. E a revelação do castigo que ela me trazia, a dúvida quanto ao que, afinal, me reservara o destino para o dia em que eu não pudesse mais esconder-me da sua ira, era precisamente a minha grande expectativa para o encontro das sete horas. Partindo do princípio de que se tratava de um encontro.»

 

***

 

«A mulher que me surgiu à frente, quando enfim fui abrir a porta, passavam onze minutos das sete da tarde, era diferente de tudo aquilo que eu esperara. Tinha uns olhos negros e resolutos, e tudo o mais na sua aparência combinava na perfeição com esse aspecto definitivo de quem em todas as circunstâncias faz da vida uma coisa séria, sem uma pausa, sem uma hesitação. Relativamente baixa e vestida com um fato azul-escuro quase colado à pele, num intrincado jogo de curvas e requebros apenas interrompido pelos saltos pontiagudos dos seus sapatos transparentes, e que a quem olhava de longe pareciam feitos de vidro, esforçava-se por parecer mais velha do que de facto era, amaneirando gestos e poses que a frescura do rosto traía com abundância. Mas em nenhum momento perdeu a compostura – e, quando a porta se abriu, deixou cair ao de leve a cabeça para trás, abriu um pouco mais os olhos, a avaliar-me, e depois acenou com veemência, pedindo licença, ou talvez ordenando que se abrissem alas, para entrar num espaço que sem dúvida lhe pertencia.

Manteve-se calada durante bastante tempo, como se o próprio acto de falar estivesse para além das suas responsabilidades – e a sucessão de ocorrências que se esforçou por desencadear nos trinta minutos subsequentes, primeiro como que surpresa pela minha estupefacção, depois quase conformada por ter de arrancar-me à inércia, não é fácil de descrever assim, com palavras apenas. Mesmo agora, neste momento em que a recordo, sou assaltado por um persistente calafrio que me nasce ao fundo das costas e me percorre a espinha, fulminante, como se brotasse das profundezas e se erguesse no ar, desafiando-me com a sua alegria e a sua imundície. No momento em que estalei o trinco da porta, e enquanto tentava ainda perguntar-me quem era aquela mulher, por que me telefonara e o que afinal queria de mim, ela deixou cair o casaco, pousou a pasta com um gesto negligente, descalçou os sapatos um no outro, sem sequer lhes tocar com as mãos, e dirigiu-se à sala com a autoridade de quem a conhecesse desde sempre. Depois, voltou-se para trás, esperou um pouco, encheu o peito de ar, soltou a camisa do cós da saia e abriu os três botões de baixo, um de cada vez. A seguir, tornou a esperar um pouco, arqueando as sobrancelhas – e, então, como eu continuasse ali estático, encostou-se finalmente a mim, à espera de ser persuadida a abrir os botões que permaneciam fechados: tudo com a naturalidade de uma velha concubina que tem de amar depressa porque, entretanto, outros afazeres a aguardam.

Eu continuava atarantado, procurando situar-me no meio daquela farsa – e, incapaz de evitá-lo, olhava e tornava a olhar para a janela, certificando-me de que ninguém estava a ver ou, estando-o, me dissesse que não tinha enlouquecido, que aquilo acontecia mesmo, que bastava esperar um pouco e logo compreenderia tudo. Quando a mulher me encostou à parede e me segurou com ênfase os testículos, no entanto, percebi que tinha uma erecção. No momento em que me beijou, melando-me por completo os lábios, com a língua enfiada bem fundo na minha boca, senti um tal ardor percorrer-me o baixo ventre que por pouco não me vim de imediato. E, tão cedo me abriu a braguilha, me puxou as calças para baixo e me passou a língua ao longo do pénis, do princípio ao fim e depois outra vez ao princípio, desemaranhando com cuidado os pêlos que se eriçavam de surpresa e de desejo, agarrei-me à ombreira da porta da sala, lancei a cabeça para trás e deixei-me conduzir ao quarto.»

REVISTA J (JORNAL O JOGO), 1 DE ABRIL DE 2012

livros de ficção

Os Sítios Sem Resposta
ROMANCE
Porto Editora
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"O Citroën Que Escrevia
Novelas Mexicanas"

CONTOS
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"O Terceiro Servo"
ROMANCE
Editorial Presença
2002
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outros livros

Bíblia do Golfe
DIVULGAÇÃO
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"Banda Sonora Para
Um Regresso a Casa

CRÓNICAS
Porto Editora
2011
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"Crónica de Ouro
do Futebol Português"

OBRA COLECTIVA
Círculo de Leitores
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"Todos Nascemos Benfiquistas
(Mas Depois Alguns Crescem)"

CRÓNICAS
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"José Mourinho, O Vencedor"
BIOGRAFIA
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